Foto: Elisabete Christofoletti

Música em Campo Expandido

Adentro o vasto território do som como principal matéria-prima para minhas narrativas artísticas, uma exploração contínua da subjetividade auditiva. Em um constante exercício, considero o ponto de escuta de outrem, permeado por um ambiente sonoro diversificado, onde ressoa minha experiência afetiva. As paisagens sonoras nativas da Amazônia, desde o canto das cigarras até a correnteza do rio Madeira, fornecem a base para meu trabalho, assim como as cacofonias urbanas de Porto Velho, que vão desde jukeboxes em bares flutuantes até os ecos da já desativada Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Desvendo esse mosaico complexo de manifestações sonoras em uma cidade amazônica, minhas obras, desde instalações sonoras até composições eletroacústicas, filtram esses fenômenos sonoros para construir experiências de escuta sensíveis. Esse filtro criativo é influenciado não apenas pelas sonoridades locais, mas também pelas produções fonográficas de escala mundial, que moldam meu pensamento sonoro e minha criação, especialmente no contexto educacional, onde a sala de aula se torna um espaço de diálogo entre o local e o global.
Procedimentos como a alimentação de uma base de dados construída com materiais sonoros captados em campo, o processamento de instrumentos acústicos e a síntese sonora, juntamente com a pesquisa tecnomórfica, são explorados em minhas composições. Fenômenos acústicos e manipulação em síntese sonora e áudio digital interagem, desafiando a dicotomia entre música acústica e estilos contemporâneos como o glitch ou o noise.
Enquanto educador musical, minha abordagem se centra na proposição de exercícios de práticas criativas, onde a organização sonora se torna um diálogo com o pensamento simbólico. Essas práticas não apenas fundamentam a aquisição do pensamento sonoro/musical, mas também exploram a interseção entre a criação musical e a exploração sonora como motores para essa fundamentação.
Assumindo a persona modesta e cultivada, mergulho no campo expandido da música, criando paisagens sonoras que ultrapassam as fronteiras convencionais. Marcado por obras como "Memórias Sonoras #01 - Pilhagem Sonora para Violão e Processador de Efeitos" e colaborações premiadas como "Vernissage Sonora", minha jornada criativa abraça a versatilidade, envolvendo o público em narrativas sonoras que transcendem o comum.
Por considerar a música num ponto de tangência com demais artes, moldando-as mutuamente, em campo expandido, as contribuições com o audiovisual no estado de Rondônia acabam por se tornar uma convergência dessa forma de pensamento, deixando uma marca notável no audiovisual com a composição de trilhas sonoras e mesmo para perfomance ou instalações,  como em "Abraçando Gaia" e "Vaga". A conquista como sound designer e compositor da trilha sonora de "Ela Mora Logo Ali", ao lado de Anderson Silva e Rinaldo Santos, marca um capítulo significativo, sendo o primeiro filme de Rondônia a ser premiado no Festival de Cinema de Gramado.
A pesquisa em sonologia, contribuindo para a construção de uma cartografia sonora da cidade de Porto Velho, revela meu compromisso em explorar e entender as complexidades do ambiente sonoro que me cerca. Assim, meu legado como artista e compositor ecoa para além das fronteiras do Estado de Rondônia, celebrando a inovação no universo da arte sonora.

NEGRO BENVINDO | Foto por marcela bonfim

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