Sobre "Afluências"
"Afluências" é mais do que uma composição; é um mergulho em um universo sonoro particular em diálogo com o que me é alheio. Inspirada na riqueza de sons da região amazônica, essa obra é um reflexo da interseção entre o natural e o urbano, entre o rio e a cidade de Porto Velho. A palavra "afluências" não é apenas uma escolha linguística; ela representa a convergência de influências musicais diversas, como afluentes que se juntam para formar um rio maior.
A composição é uma narrativa sonora que se desenrola gradualmente, explorando melodias assimétricas que se entrelaçam, criando uma massa sonora única. Cada nota, cada acorde, é uma manifestação das paisagens sonoras que moldaram minha poética como compositor. O ritmo irregular das correntezas é traduzido em momentos de densidade e dissonância, proporcionando uma experiência imersiva, onde a audição atenta revela camadas de significado.
O rio como metáfora
Assim como um rio, "Afluências" não é estática; é dinâmica e transformadora. Os ostinatos se movem entre diferentes grupos instrumentais, como afluentes que desembocam em novas relações musicais. A flexibilidade da instrumentação, inspirada nas ideias de Julius Eastman, permite uma abordagem aberta, enquanto a presença sugerida de piano e violões equilibra alturas e enriquece a paleta de timbres.
O Convite à Escuta Mútua
"Afluências" não é apenas uma obra para ser ouvida passivamente. É um convite à escuta mútua, onde os músicos estão atentos aos ostinatos executados por seus colegas, e o público é convidado a explorar atentamente o movimento sonoro presente na composição. Os momentos de dissonância e consonância refletem não apenas a complexidade da natureza, mas também a necessidade urgente de refletir sobre nossas ações e interações com o meio ambiente.
No Festival Pequenas Sessões
Este festival, inspirado na água e no som como elementos essenciais para a vida, fornece o cenário perfeito para a estreia de "Afluências". As Pequenas Sessões não são apenas eventos musicais; são experiências que desafiam nossa percepção e nos convidam a repensar nossa relação com a natureza e a arte, bem como é definido em seu texto curatorial:
"O som e a água enquanto vida surgem como um chamado à necessidade urgente de reflexionar, e mais que isso, ressignificar os modos de existir enquanto civilização. A temática curatorial desta edição emerge no intuito de provocar artistas, público e demais interessados a investigar quais as (im)possíveis ações iminentes devemos realizar para diminuir o impacto nos habitats onde nos encontramos. Habitats estes que, nutrem uma capacidade limite de recursos disponíveis para a existência das diversas vidas humanas e não humanas que neles convivem."
Ao explorar "Afluências" nesta exposição, convido todos a se perderem nas correntezas sonoras, a encontrarem os afluentes de significado e a refletirem sobre a interconexão entre música, som e vida. Espero que esta obra ressoe em cada um de vocês, assim como a sinfonia da natureza ressoa em mim.
Desfrutem da jornada sonora que é "Afluências" e mergulhem nessa experiência única no 13º Festival Pequenas Sessões.
Anderson Benvindo.