Alma da Árvore conecta ipês de Rondônia e Minas em experiência imersiva
Obra de Pritama Brussolo, com participação sonora de Anderson Benvindo, será aberta em 22 de setembro dentro da 19ª Primavera dos Museus
De 22 a 28 de setembro, museus de todo o Brasil participam da 19ª Primavera dos Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). A edição deste ano tem como tema “Museus e Mudanças Climáticas”, convidando instituições e artistas a refletirem sobre memória, justiça e o futuro do planeta em meio à crise ambiental.
É nesse contexto que será inaugurada a instalação Alma da Árvore: Cordões de Gaia, assinada pela artista Pritama Brussolo e com arte sonora em coparticipação do músico rondoniense Anderson Benvindo. A abertura acontece no dia 22 de setembro (segunda-feira), às 16h30, no Museu do Diamante, em Diamantina (MG).
A obra nasce de uma pergunta feita por uma criança, durante a Oficina Quintal Medicinal, realizada no Museu do Diamante e conduzida por Marcos Guião: “É porque a árvore não tem alma, né?”. A instalação se constrói como uma resposta poética a essa inquietação, propondo ao visitante um rito de reconexão com a natureza. Cordões vermelhos se estendem da árvore, ligados a auréolas que convidam o público a experimentar a ligação entre corpo e sagrado. No chão, cabaças, ninhos e ossos se espalham como raízes-veias, evocando memória, ancestralidade e fragilidade.
Dentro da instalação, um dos elementos centrais é o ninho, que reúne em si a ambiguidade entre fragilidade e potência vital. Nele, a artista optou por inserir um feto tecido em fios vermelhos — mesma matéria que percorre toda a obra como cordões-veias — repousando sobre os fragmentos de um ovo quebrado. Essa combinação cria um jogo simbólico entre colapso e nascimento: o ovo, rompido, evidencia a vulnerabilidade do ciclo da vida, enquanto o feto de fios se afirma como possibilidade de continuidade, insistência e regeneração. Assim, o ninho deixa de ser apenas um abrigo e se transforma em um espaço limiar, onde a destruição não é fim absoluto, mas abertura para o vir-a-ser.
O título “Cordões de Gaia” remete à ideia de Gaia como ser vivo — a Terra como organismo em interdependência, onde cada ser, humano ou não humano, é parte de um todo pulsante. Essa concepção dialoga com cosmologias ancestrais que compreendem a Terra como mãe e guardiã. A obra convida, assim, a perceber os fios invisíveis que ligam vida, morte, regeneração e sagrado.
A travessia se completa pelo som: o visitante escuta, por meio de fones de ouvido e QR code, uma composição que sobrepõe ruídos de fogo, serras e vento chorando a batidas de coração, tambores primordiais e cantos ancestrais. A trilha inclui ainda experimentações produzidas a partir da tecnologia PlantWave, que traduz os biorritmos das plantas em notas musicais e texturas contínuas — como se a árvore revelasse sua própria voz.
Inspirada nas ideias de Ailton Krenak, a instalação propõe olhar para a natureza não como recurso, mas como parente, convidando a sentir o que significa estar vivo em meio ao colapso. O trabalho também dialoga com a reflexão de Winnicott, para quem “às vezes, o colapso conduz a uma espécie de cura”. Assim, a instalação se apresenta como um “entre-lugar”, onde o público é convidado a atravessar a ferida e experimentar a possibilidade de reconexão com o sagrado da natureza.
Há ainda um detalhe que atravessa a obra de forma simbólica e poética: a trilha sonora criada por Anderson Benvindo nasceu a partir dos sinais elétricos de um ipê em Porto Velho (RO), captados pela PlantWave e transformados em música. Em Diamantina, o público se sentará justamente sob um ipê, ao qual estão conectados os cordões vermelhos da instalação. Assim, dois ipês — um da Amazônia rondoniense, outro de Minas Gerais — se encontram pela arte, conversando através do som e da experiência do visitante.
A artista e professora de trabalhos manuais da Escola Waldorf Querubim, Thalita Mota, também participa da instalação, colaborando na confecção dos 12 metros dos cordões de Gaia.
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O evento acontece na Casa da Chica da Silva, sede temporária do Museu do Diamante, localizada na Praça Lobo de Mesquita, 266, Centro de Diamantina/MG. Toda a programação é gratuita. Informações pelo telefone (38) 99265-0019.
Quem é Pritama Brussolo
Pritama Brussolo é mãe, artista, arte/educadora e pesquisadora. Professora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), atualmente requisitada para o Setor Educativo do Museu do Diamante (IBRAM), em Diamantina/MG. Representante regional da ANPAP – Sudeste (2025/2026) e integrante do Comitê de Poéticas Artísticas. Desenvolve pesquisas nas áreas de arte contemporânea, memória, visualidades afro-indígenas e práticas decoloniais.
Quem é Anderson Benvindo
Anderson Benvindo é músico, compositor e educador nascido em Porto Velho (RO), com atuação marcada pela experimentação sonora na Amazônia. Formado em Música pela UNIR e em Trilha Sonora pela Academia Internacional de Cinema, tem passagem pelo International Lab for Art Practices (ILAP), em Nova York. É professor e diretor musical da School of Rock Porto Velho, integra as bandas Benvindo ao Pacífico e Soda Acústica e foi premiado no Salão de Artes de Rondônia e no Prêmio Rondônia Autoral. Compôs obras de arte sonora para espetáculos, performances, exposições e produções audiovisuais, articulando música, memória e experimentação artística.